Como sempre, Ronaldo Fraga se superou. Nesta edição do SPFW ele nos emociona com uma nova e bela visão da América Latina. Abaixo, palavras do prórpio Ronaldo, descrevendo sua coleção.
E de repente o mundo acabou.
Exatamente como as previsões de que ele não passaria do ano 2000.
Ficamos sem fórmulas, sem direção e sem fronteiras. Pouca coisa sobrou depois da tempestade, que ainda nem terminou. Visão trágica e pessimista?
Nunca fui tão otimista na minha vida.
Ainda bem que o velho mundo ficou no século passado… já estava cansado de viver num país que, ofegantemente, tentava chegar à Europa nadando e sem bússola. Agora, olho para os vizinhos de uma América Latina que não conheço. Uma América que, definitivamente, não é a dos generais e ditadores “cucarachas” perdidos no tempo. Que não é a do visto negado para os Estados Unidos, ou que paga caro a conta da corrupção.
Namoro uma América Latina multipolar, de riqueza cultural afetuosa e inesgotável.
Meus olhos se derretem pelas festas mexicanas, pelo artesanato têxtil colombiano, pela emoção do cinema argentino, pelos confetes e serpentinas do carnaval de Olinda, pelas letras de Borges, Drummond, García Marquez, Cortázar… frentes de resistência cultural em um mundo movediço e sem fronteiras. Tempos de superficialidades, como é superficial a relação de nós brasileiros com o vizinho de porta (Dona América Latina) que mal cumprimentamos no encontro diário no elevador. Aqui nesta coleção, ensaio uma troca de xícaras de açúcar com um vizinho que não fala a minha língua mas que conversamos através da música, do universo gráfico, do desconforto político e religioso e na sensação de um lugar possível no mundo contemporâneo.
fonte:
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