terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cinema da Fundação

CINEMA DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Diretoria de Cultura - Rua Henrique Dias, 609, Derby
Fones: (81) 3073.6688, 3073.6689, 3073.6712 e 3073.6651
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) – R$ 4,00 (acima de 60 anos/estudantes)
Promoção | Diretoria de CulturaCinema




2ª Semana:

O Homem Que Engarrafava Nuvens
(Brasil, 2008) De Lírio Ferreira. Com Chico Buarque, Caetano Veloso, David Byrne. Documentário musical sobre a vida e a obra do compositor, advogado, deputado federal e criador das leis de direitos autorais, Humberto Teixeira, também conhecido como "O Doutor do Baião" pela autoria de clássicos populares como "Asa Branca". O filme acompanha sua filha, Denise Dummont, numa viagem em busca de aprender mais sobre o pai. Isso dá ao filme o toque pessoal e humano, casando com a condução livre e autoral de Ferreira (Baile Perfumado, Árido Movie). 128 min. / Tela Larga / 35mm / Dolby SR / Espaço Filmes



4ª Semana:

Deixa ela entrar
(Låt den Rätte Komma In, Suécia, 2008), de Tomas Alfredson. Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson.
Um maravilhoso filme sueco com um ponto de vista um tanto diferente para uma história de vampiros e adolescentes. Inteligente, lírico, ousado e adequadamente sangrento, Deixa Ela Entrar equilibra o melhor do cinema de gênero com a delicadeza das grandes histórias de amor. Sinopse: Oskar tem 12 anos e é um garoto ansioso, frágil e provocado pelos colegas. Com a chegada de Eli, uma garota séria e pálida da mesma idade, que se muda para a vizinhança com o pai, ele ganha uma amiga. 112 min. / 16 anos / em 35mm / Dolby SR / Tela Larga / Filmes da Mostra

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Texto Incrível de Adelaide Ivanova... para refletir em tempos de SPFW


ADELAIDE IVANOVA

“Bem que eu queria interagir mais, me envolver mais, mas o que eu gosto mesmo é de ficar olhando para elas”. Essa frase bem que podia ser minha, mas é Annie Leibovitz falando sobre as fotos que não faz de suas filhas. Eu vi a exposição retrospectiva dela, em Madrid, e me senti tão identificada com essa frase, pela minha não-vontade de perder tempo fazendo outra coisa que não seja olhar o homem que eu amo. Não se fotografa o infotografável (ainda que tenha fotógrafo que diga ser capaz de fazê-lo). Isso eu aprendi com Annie e com Armin.
Pela primeira vez na vida um ano chega ao fim e eu não penso “Graças a Jah, acabou”. É que eu sinto que o universo foi justo comigo, e eu só queria que 2009 se arrastasse mais um pouco (uns seis séculos a mais, talvez?).
E não quero dizer que só teve coisa boa. É que eu, afinal, consegui ver um balanço – quando uma coisa ruim acontecia, dava para ver para quê; quando uma coisa massa acontecia, dava para ver por quê. Pode não ter sido nada grandioso, talvez apenas eu tenha mudado.
Literalmente, ao menos. Comprei uma passagem barata que não dava direito nem a escolher o lugar no avião e fui dar um rolê bem hippie sujo nas Europa. Tirei três meses de licença maternidade pra dar de mamar a mim mesma e não levei nada além de um par de Havaianas, meia dúzia de vestido véio e uma câmera de filme. Não levei xampu e nem creme e, uma vez no Velho Mundo, viajei tudo de trem e ônibus, bem seventies (e até bicho-de-pé eu peguei).
Eu, que durante tanto tempo trabalhei com “as moda”, queria me desapegar das coisas que eu achava, antes, que não conseguia viver sem. Abri mão de sapato, da Kerastase e até da minha profissão. Decidi que eu não ia fotografar nada que realmente não fosse uma foto.
A gente clica tudo e depois não sabe nem onde ficava aquilo, nem por que fotografou. A gente fica com uma caixa de sapato – ou um HD – cheio de imagens que não dizem nada e que ninguém nunca mais vai ver, nem vai se importar.
E essa minha vontade ganhou fundamentação teórica (HA!) quando eu vi a exposição de Annie Leibovitz. Nunca iremos ver as fotos-com-o-coração que Annie faz de suas herdeirinhas. São lindas porque são escolhas.
Eu imitei Annie e segui fazendo isso toda minha a viagem. Tirando não-fotos que vocês nunca vão ver, mas que eu nunca vou esquecer dentro de uma caixa de sapato cheia de traça.
De quê adiantaria tirar foto de cada um dos meninos de Barcelona que eu vi? Só porque me dava vontade de aplaudir quando eles passavam? Na foto nunca viriam os palavrões que eles diziam, nem o cheiro dos bocadillos, nem o vento do Mediterrâneo. E eu ficaria frustrada por aquela foto não ter um terço do charme das minhas lembranças. E a culpa não é da fotografia – é da ganância que às vezes toma conta de um fotógrafo.
No mesmo dia que cheguei à Europa, conheci Armin. Ele redesenhou tudo que eu tinha planejado – para a viagem, para a vida. Nunca não-fotografei tanto alguém. Racionalmente, eu deveria ter clicado tudo, porque sabia que nos separaríamos. Mas preferi ficar como Annie: só olhando e olhando e olhando praquele menino existindo.
Quando voltei para São Paulo e revelei os filmes, uma parte abilolada de mim me martirizou por não ter mais fotos dele. Por dois segundos autoflagelativos, se arrependimento matasse, eu seria Susan Sontag.
No terceiro segundo, lembrei que conseguia saber exatamente porquê e quando eu fiz cada uma das fotos de Armin. E sabia dizer exatamente onde ficava aquela meia dúzia de imagens: in meinem Herz.
Falando em Herz, quando eu fui encontrar com ele na Alemanha, Berlim se preparava para celebrar os 20 anos da queda do muro. E lá eu descobri um monte de coisa sobre muros – os de verdade e os metafóricos.
O que pouca gente sabe (e eu também só descobri quando cheguei lá) é que die Mauer, na verdade, circundava a parte oeste da capital alemã. Mas era “os pessoal” do leste que não tinha liberdade (isso eu já sabia de antes, não sou tão burrinha assim).
Portanto, quando o muro foi derrubado, libertou não quem estava do lado de dentro dele, mas quem estava do lado de fora. I couldn’t help but wonder: “liberdade, portanto, é poder ir para dentro”. Só não me pergunte do quê, que eu ainda não sei.
Eu tive que percorrer 10 mil quilômetros para entender que meu lugar preferido no mundo não estava no Mapa Mundi. E, ao contrário do que eu mesma queria como desfecho desse texto, também não estava dentro de mim.
“A fotografia ganha um significado novo quando alguém morrer”. Isso é o que Annie diz a respeito das fotos que fez de Susan Sontag (com quem ela namorou por duzentos anos), quando esta estava doente. Eu, que já conto em dedos de duas mãos a quantidade de pessoas queridas que perdi nessa vida, digo que não é somente a relação com as fotos que você fez da pessoa morta (ainda viva!) que muda. É a relação com a pessoa como um todo. É tipo aquela moça sabida, Lygia Fagundes Telles, que diz que a memória é uma invenção.
E se a morte é a mãe da distância, e se a distância é mãe da memória, e se é nela que minha imaginação pode tocar o terror, abandono toda a sabedoria espiritual e assumo: meu lugar preferido no mundo não está dentro de mim. Está bem aqui, nesse porta-retrato, e tem 1,90 e cabelo comprido.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Clientela cresce pelo boca a boca

Com muito jogo de cintura e criatividade. É assim que o mercado de trabalho de personal stylist funciona em Pernambuco. Com o campo de atuação enxuto, já que a atividade não é muito conhecida na região, quem pensa em trabalhar na área precisa saber destacar-se e atrair a sua clientela. A personal stylist Jéssica Tavares, 37 anos, garantiu o seu diferencial com o curso de psicologia, que lhe ajudou (e muito) a entender e saber lidar com as pessoas. Hoje, Tavares é professora da Faculdade Maurício de Nassau e da Faculdade Senac e ainda atua como free lancer em planejamento de coleções e em consultora de moda particular.

"Passei minha infância convivendo com tias e avós que faziam roupas para fora, e me encantava a possibilidade de transformar panos em peças bonitas", lembra Jéssica, que se desiludiu da carreira em moda por não haver cursos na área. "Daí, fui cursar psicologia e mais tarde, quando fui morar em Paris (França), decidi que a moda era mesmo o caminho que queria seguir", conta. Na Cidade Luz, Tavaresfez especialização em marketing e gerenciamento de moda, na Modspé e aperfeiçoamento em estilismo e modelismo, na Esmod. Ainda para encrementar o currículo, fez desenho criativo na Saint Martins School, de Londres. "Mas estudar psicologia foi fundamental", ressalta.

Depois de realizar trabalhos para Judith Lacroix, Zappa e Sinequanone, Jéssica voltou ao Recife e hoje ensina psicossociologia da moda e linguagem gráfica, na Nassau, e planejamento de coleção e estilo, no Senac. Ainda como professora, realiza alguns cursos na área de personal stylist na Casa 208. Para o Guia de Profissões, Tavares conta um pouco da realidade desse profissional e alerta para importância de estar por dentro das tendências.

Que perfil o profissional desta área deve ter?

Tem que ter capacidade de observação e de escuta apurados, pontualidade, e muito senso de ética profissional. Por outro lado, além de gostar e conhecer moda, ele precisa ter bom gosto, senso estético, além de entender e estar atualizado em relação as tendências. Também é necessário saber de colorimetria (estudo das cores), entender um pouco de etiqueta e saber adotar as formas adequadas para cada tipo morfológico. Para trabalhar nesta área, ainda é preciso conhecer o comércio de roupas e acessórios local para a realização do personal shopping. E ter sensibilidade no trato com as pessoas, pois trabalhamos direta e indiretamente com a autoestima.

Como é o mercado de trabalho aqui em Pernambuco?

Considero que a publicidade em torno da profissão, alavancada por programas de televisão, como o Esquadrão da moda (exibido nos canais por assinatura), dentre outros, foi de importância fundamental para o crescimento da demanda por este tipo de serviço. A capacidade doprofissional em se adaptar a realidade econômica local e também do cliente que requisita o serviço é fundamental para se conseguir uma boa carteira de clientes, que geralmente se amplia pelo processo do "boca a boca" e pelo resultado do trabalho, que se for bem feito é imediatamente visível e desperta a curiosidade e o desejo em outras pessoas de realizar uma consultoria, ainda que de maneira pontual, para um evento, uma viagem ou uma entrevista de trabalho.

Quanto pode ganhar um personal stylist por cada trabalho ou por mês?

Depende bastante da demanda e dos ajustes que o profissional pode fazer em seus preços para oferecer um serviço mais completo possível, sem torná-lo inacessível. Realizar a consultoria por etapas ou em sistemas de pacotes podem ser duas boas opções. A hora de trabalho pode custar entre R$ 60 e R$ 150 (este último valor é mais praticado no Sul do país), mas cada profissional pode e deve repensar seus valores em função de sua habilidade, experiência e das possibilidades do cliente. Umaconsultoria completa pode custar entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil, a depender da quantidade de serviços prestados dentro da mesma e das horas necessárias para execução do trabalho.

Qual conselho daria para quem está querendo começarna profissão?

Procurar cursos e literatura sobre o assunto, treinar com parentes e amigos antes de partir para o público, saber vestir-se bem e andar sempre bem apresentável (você é seu próprio cartão de visitas), desenvolver a capacidade de observação e de escuta, pois um bom profissional não impõe um estilo ao cliente, mas deve saber como esta pessoa precisa e pode se vestir para as diversas ocasiões e ambientes e, sobretudo, para seu auto-conhecimento, sua valorização pessoal e bem-estar.

Serviço:

Jéssica Tavares - (81) 9186-2665

Matéria do Diário de Pernambuco

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Walter Smetak, alquimista dos sons

Por Andreas Kisser

Eu estava em uma unidade do SESC, em São Paulo, visitando uma exposição com a minha família e na saída fui dar uma olhada em uma pequena loja no saguão. Eu vi um livro que me chamou a atenção pelo título: "Walter Smetak: O Alquimista dos sons", de Marco Scarassatti (veja aqui). Comprei e fiquei maravilhado com a experiência de conhecer um pouco da obra deste gênio fantástico que, segundo ele mesmo, estava a cinquenta anos à frente de tudo. Realmente estava, talvez até muito mais do que cinquenta anos.

Anton Walter Smetak nasceu na Suíça, em 1913, e era filho de ciganos tchecos. O pai era músico e tocava cítara, primeiro intrumento de Smetak. Depois, ele trocou a cítara pelo piano, por causa de sua admiração por Bach e Beethoven, e em seguida ele foi para o violoncelo. Smetak teve formação clássica, uma educação tradicional europeia da década de 30, mas desde cedo já mostrava uma certa insatisfação com os formatos e leis da música. Sua curiosidade o levou a "dissecar" os instrumentos para descobrir os seus segredos sonoros, faltava às aulas para acompanhar e aprender o trabalho de luthier.

Smetak se destacava como violoncelista, mas o perigo da Segunda Guerra Mundial, que se aproximava da Europa, fez com que ele aceitasse o convite para vir ao Brasil e tocar na orquestra da Radio Farroupilha, de Porto Alegre. Mesmo mudando de país, a guerra ainda o perseguia. Smetak era constantemente confundido como um alemão, então ele resolveu sair dali e viajar o país tocando em vários estados em orquestras, até integrou a orquestra de Carmem Miranda durante um tempo.

Tempos depois ele teve uma misteriosa doença que quase morreu, quando se recuperou, mergulhou no mundo do misticismo, mais precisamente nos ensinamentos da Eubiose, que tem a proposta de unir fé e ciência, intuição e razão, na construção de um novo homem. Isso mudou seu rumo e foi nesta época que ele recebeu o convite para lecionar na Universidade Federal da Bahia, o terreno perfeito para a sua total evolução, em todos os aspectos.

Anton Walter Smetak inventava instrumentos, criou mais de 150, com cabaças, arames, partes de instrumentos quebrados ou o que ele encontrasse pela frente. Sempre reciclava o lixo que achava pela rua, todos eles com conceitos e influências "cósmicas", cheios de simbologia. Um dos instrumentos mais interessantes que Smetak inventou é a máquina do silêncio. Sua intenção era reproduzir o som do silêncio, sons que nós humanos ainda não somos capazes de perceber na natureza.

Ele também era escultor, escritor, compositor, filósofo, louco, gênio! Um Leonardo Da Vinci tropical. Alíás, ele foi uma das principais referências do Tropicalismo, sendo uma fonte muito importante para Tom Zé, Gilberto Gil e Caetano Veloso - que produziu o único álbum de Smetak, álbum homônimo, de 1973, que foi um fracasso comercial, apesar de ser um registro histórico espetacular. O grupo mineiro Uakti, que toca instrumentos feitos com tubos de PVC, também é influenciado pela magia de Smetak (veja aqui).

Smetak morreu em 1984, vítima de efizema pulmonar, consequência do abuso do tabaco. Morreu sozinho e decepcionado com o ser humano. Ele deixou uma infinidade de instrumentos, esculturas, livros, composições e peças de teatro. O seu acervo está deteriorando em Salvador, empacotado dentro de caixas em uma sala úmida, esperando que os herdeiros entrem em acordo sobre o destino de tudo. Uma pena que a ganância e a ignorância de muitas pessoas e autoridades privem a sociedade brasileira de aprender e admirar o legado deixado por este mestre.

Escutando sua música, tenho a impressão de que ele parece reproduzir o som dos planetas girando em torno do sol, o ruído da rotação da Terra, cometas passando ao longe, o som do nascimento de uma estrela ou o estrondo de uma colisão entre galáxias. Sons que ainda não percebemos e que Walter Smatek pode ter nos mostrado em primeira mão.

Deixo aqui um link de um pequeno documetário, com depoimentos do próprio Smatek, de familiares, amigos e admiradores (veja aqui eaqui). Deixo também algumas frases sensacionais, que fazem a gente refletir, são muito instigantes e inspiradoras:

"O fim da fala ainda não é o início do silêncio"

"Falar sobre música é uma besteira, mas executá-la é uma loucura"

"O que aconteceu talvez é que me interessa muito mais o mistério dos sons que o da música. Tenho procurado diferenciar claramente o fazer som, um meio de despertar novas faculdades da percepção mental, e o fazer música, apenas um acalento para velhas faculdades da consciência."

"Creio que só a loucura poderá salvar o homem, a loucura santa"

Abraço, play it loud!!!

Andreas

sábado, 2 de janeiro de 2010


Desculpem a demora em postar... Prometo que agora estarei mais presente.
Para todos um ano dourado 2010!!!!