sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Walter Smetak, alquimista dos sons

Por Andreas Kisser

Eu estava em uma unidade do SESC, em São Paulo, visitando uma exposição com a minha família e na saída fui dar uma olhada em uma pequena loja no saguão. Eu vi um livro que me chamou a atenção pelo título: "Walter Smetak: O Alquimista dos sons", de Marco Scarassatti (veja aqui). Comprei e fiquei maravilhado com a experiência de conhecer um pouco da obra deste gênio fantástico que, segundo ele mesmo, estava a cinquenta anos à frente de tudo. Realmente estava, talvez até muito mais do que cinquenta anos.

Anton Walter Smetak nasceu na Suíça, em 1913, e era filho de ciganos tchecos. O pai era músico e tocava cítara, primeiro intrumento de Smetak. Depois, ele trocou a cítara pelo piano, por causa de sua admiração por Bach e Beethoven, e em seguida ele foi para o violoncelo. Smetak teve formação clássica, uma educação tradicional europeia da década de 30, mas desde cedo já mostrava uma certa insatisfação com os formatos e leis da música. Sua curiosidade o levou a "dissecar" os instrumentos para descobrir os seus segredos sonoros, faltava às aulas para acompanhar e aprender o trabalho de luthier.

Smetak se destacava como violoncelista, mas o perigo da Segunda Guerra Mundial, que se aproximava da Europa, fez com que ele aceitasse o convite para vir ao Brasil e tocar na orquestra da Radio Farroupilha, de Porto Alegre. Mesmo mudando de país, a guerra ainda o perseguia. Smetak era constantemente confundido como um alemão, então ele resolveu sair dali e viajar o país tocando em vários estados em orquestras, até integrou a orquestra de Carmem Miranda durante um tempo.

Tempos depois ele teve uma misteriosa doença que quase morreu, quando se recuperou, mergulhou no mundo do misticismo, mais precisamente nos ensinamentos da Eubiose, que tem a proposta de unir fé e ciência, intuição e razão, na construção de um novo homem. Isso mudou seu rumo e foi nesta época que ele recebeu o convite para lecionar na Universidade Federal da Bahia, o terreno perfeito para a sua total evolução, em todos os aspectos.

Anton Walter Smetak inventava instrumentos, criou mais de 150, com cabaças, arames, partes de instrumentos quebrados ou o que ele encontrasse pela frente. Sempre reciclava o lixo que achava pela rua, todos eles com conceitos e influências "cósmicas", cheios de simbologia. Um dos instrumentos mais interessantes que Smetak inventou é a máquina do silêncio. Sua intenção era reproduzir o som do silêncio, sons que nós humanos ainda não somos capazes de perceber na natureza.

Ele também era escultor, escritor, compositor, filósofo, louco, gênio! Um Leonardo Da Vinci tropical. Alíás, ele foi uma das principais referências do Tropicalismo, sendo uma fonte muito importante para Tom Zé, Gilberto Gil e Caetano Veloso - que produziu o único álbum de Smetak, álbum homônimo, de 1973, que foi um fracasso comercial, apesar de ser um registro histórico espetacular. O grupo mineiro Uakti, que toca instrumentos feitos com tubos de PVC, também é influenciado pela magia de Smetak (veja aqui).

Smetak morreu em 1984, vítima de efizema pulmonar, consequência do abuso do tabaco. Morreu sozinho e decepcionado com o ser humano. Ele deixou uma infinidade de instrumentos, esculturas, livros, composições e peças de teatro. O seu acervo está deteriorando em Salvador, empacotado dentro de caixas em uma sala úmida, esperando que os herdeiros entrem em acordo sobre o destino de tudo. Uma pena que a ganância e a ignorância de muitas pessoas e autoridades privem a sociedade brasileira de aprender e admirar o legado deixado por este mestre.

Escutando sua música, tenho a impressão de que ele parece reproduzir o som dos planetas girando em torno do sol, o ruído da rotação da Terra, cometas passando ao longe, o som do nascimento de uma estrela ou o estrondo de uma colisão entre galáxias. Sons que ainda não percebemos e que Walter Smatek pode ter nos mostrado em primeira mão.

Deixo aqui um link de um pequeno documetário, com depoimentos do próprio Smatek, de familiares, amigos e admiradores (veja aqui eaqui). Deixo também algumas frases sensacionais, que fazem a gente refletir, são muito instigantes e inspiradoras:

"O fim da fala ainda não é o início do silêncio"

"Falar sobre música é uma besteira, mas executá-la é uma loucura"

"O que aconteceu talvez é que me interessa muito mais o mistério dos sons que o da música. Tenho procurado diferenciar claramente o fazer som, um meio de despertar novas faculdades da percepção mental, e o fazer música, apenas um acalento para velhas faculdades da consciência."

"Creio que só a loucura poderá salvar o homem, a loucura santa"

Abraço, play it loud!!!

Andreas

2 comentários:

  1. Bianca querida... prazer imenso tê-la como visitante e SEGUIDORA do meu Blog.
    Menina... tô sem fôlego... amei seu PERFIL... você é FERA... rsrs...!!!
    Eu, sou apenas uma amante de moda, desde criança.
    Há 30 anos eu leio, pesquiso, acompanho tuuudo relacionado a moda... às vezes vou ao SPFW.
    Vou estar sempre aquí no seu Blog... quero aprender um pouco mais... rsrs...!!!
    Beijos no seu coração...!!!

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  2. Own Vânia... agradeço pelos elogios...
    Vamos aprendendo juntas...

    Beijos!

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